sexta-feira, 27 de abril de 2012

Desafio n.º 13



Aquecimento: Para o ensosso, há sempre remédio
Partir de uma frase banal ou original e substituir cada palavra significante por uma definição do dicionário ou pessoal, se tiver apertado de tempo. Pode repetir a operação até ao infinito, infinitamente. Não deixe de imprimir alguma intenção ao seu texto – ironia, complexidade, elegância, etc.
1.      O gato bebeu o leite.
2.      O mamífero carnívoro doméstico engoliu um líquido branco, com sabor suave fornecido pelas fêmeas dos mamíferos.
3.      Aquele que tem mamas, come carne, se relaciona com a casa,…

Ritmos e ruídosdefinissom
Definir as palavras com base nas letras e/ou sonoridades que as compõem.
falange : aquele que fala de anjo


Adivinha improvável
Quatro versos de mesma estrutura frásica com sabor a adivinha e cuja solução explícita ou oculta é uma homofonia.
Cidade da torre
Gente de revoluções
Corcunda de notre dame
Vida à grande
Vida à francesa
Ó Pá, ris?

Gourmet : Second life
Repescar da tua memória alguns objetos que foram um acesso, uma transposição, um símbolo. Falar unicamente do objeto, mas desenvolvendo tudo o que constitui a nossa relação a ele. São ferramentas, sapatilhas, um par de calças, etc., que contaram em algum tempo da nossa existência. São objetos que não têm direito de admissão na residência da velha poesia, mas que obrigam a linguagem a superar-se para falar deles de outra maneira que não seja só nomeá-los. Para isso acontecer, enfatiza na linha escrita, necessariamente plural, com várias origens, da nossa relação a esse objeto.
Pode ser até uma autobiografia por objeto interposto. Por exemplo, uma autobiografia em três objetos que configuraram ciclos de uma existência, nos laços que se teceram com esse objeto. Só falar do objeto – descrevê-lo, claro, mas se for um objeto banal como um telemóvel, pode-se multiplicar as fontes de informação ; comprado onde, encontrado ou oferecido, perdido quando, danificado, que história se associa a ele ? Então sim, em virtude dos objetos que estabelecem a nossa relação aos outros, emerge um mundo estranho : o dos objetos, da sua relação e circulação e como nós vivemos nele.


Extra da semana: Lounge bar
Um complemento aliciante é recriares a crítica literária que seria feita na publicação do teu texto. Para isso, usa um estilo original e conta para o leitor a originalidade temática e estilística do autor (tu) que ressai  das linhas que escreveste.


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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Desafio n.º 12




Aquecimento: Solicitude
O poema tem rima, conta com três versos; o esquema da rima é a a a; os dois primeiros versos são alexandrinos e o último trissilábico; o último verso é uma interrogação introduzida por «Que»; a interrogação incide sobre uma pessoa que não tem de ter obrigatoriamente um nome homologado; o último verso é homófono de um nome concreto; não tem de haver relação semântica evidente entre os versos e a interrogação. Isto é para as solicitudes clássicas. A versão moderna deste desafio pode alterar alguma(s) da(s) regras.
Exemplo muito imperfeito mesmo para solicitude moderna

Em falta há tantos anos,
Estendes coloridos panos
Pensa na inveja dos americanos
Diz, Pensa!


Ritmos e ruídos: Soneto Pirracional
Um soneto pirracional é um poema com forma fixa, de catorze versos, cuja estrutura se apoia no número pi. Está dividido em cinco estrofes sucessivas e respectivamente compostas por 3-1-4-1-5 versos, os primeiros algarismos de pi. As duas estrofes com versos únicos podem funcionar como refrão.
O poema é construído sobre quatro rimas A,B,C,D. As rimas A e C são masculinas e as B e D são femininas. Rima "feminina" é a que é feita com palavras paroxítonas - as que têm a tonicidade na penúltima sílaba: pedra, mesa, conforto, órfão, agradável, cortina... ... (As palavras podem ter acento gráfico ou não)/Rima "masculina" é a que é feita com palavras oxítonas - as que têm a tonicidade na última sílaba: café, compor, você, carnaval, sofá, também... ... (As palavras podem ter acento gráfico ou não.). O esquema rimático será o seguinte:
1. A +
2 A +
3 B –
4 C+
5 B –
6 A +
7 A +
8 B –
9 C + (idêntico ao 4)
10 C +
11 D –
12 C +
13 C +
14 D –


Gourmet : Parlamoutro
Viver é coexistir, cruzar, encontrar, acolher. Mas como falar do outro ? Como significar pela linguagem o que o outro nos traz, nos altera, nos move ? O outro é antes de mais a palavra, uma voz e o encontro uma voz que veio ter connosco. Eis uma pista. Não é preciso ter encontrado milhares de vezes a pessoa que será objeto do nosso texto. Não é preciso ter trocado muitas palavras. Aquilo de que precisamos, é o enigma, a singularidade. A narração trata das informações. A voz dá um ritmo, uma presença, uma música : as palavras banais chegam, são elas que definem como se comporta a pessoa à nossa frente. É essa música que é preciso captar, é difícil. Tudo conta. O sítio onde stamos sentados, a mesa, a iluminação. Cada frase é um azulejo. A roupa, a postura, um pormenor no rosto e na mão. Como o tempo, é o do encontro, suas expectativas, durações, vazios, cada elemento pode ficar independente dos que o circundam. Avança-se acumulando apontamentos, cada pormenor apelando outro. Cada microsegundo vai transformar-se um elemento do texto. Para onde olhávamos ? Em que é que reparamos ? Que procuramos ver, ouvir, olhar, saber ?
Teremos muito atenção às suas palavras, mesmos raras, mesmo banais, não respeitar forçosamente a cronologia.  Na montagem, dispersá-las na totalidade do texto narrativo, começar por uma dessas palavras ouvidas.
De notar que o mesmo princípio de trabalho pode aplicar-se a um encontro regular na rotina.







segunda-feira, 16 de abril de 2012

Desafio n.º 11

Aquecimento: Um Final feliz.
Funciona com três versos: os dois primeiros não rimam, mas o fim do terceiro verso é composto a partir do som consonântico do final de um dos dois versos anteriores e do som vocálico do final do outro.


Ritmos e ruídos: n-teen
Escolhe seis(n) palavras que não rimam e depois compõe seis(n) estrofes com seis(n) versos, em que cada verso acaba uma das seis palvaras escolhidas. Na estrofe seguinte, redistribui a ordem, de modo a que a ordenação não se repita em nenhuma das seis estrofes.


Gourmet :  Escrita em direto 
Durante um quarto de hora, num posto de observação escolhido arbitrariamente por ti, faz o levantamento minuto a minuto de tudo o que percecionas : ecreve o que apreendes, tal como os estudantes de artes que pintam numa tela o que veem. Para ti as cores e as formas são conferidas pelas palavras e os planos geométricos é o relógio que cronometra o mundo emergente à tua volta. Se não se passar nada, podes referir precisamente isso, 14h50 – nada. Não tem de ser minuto a minuto, mas o enfoque inicial deve partir da hora. Pode-se também efetuar o mesmo jogo em simultâneo de horas para todos os participantes desta oficina, e depois cruzarem-se as leituras de todos os participantes.




domingo, 18 de março de 2012

Desafio n.º 10

Aquecimento: Para o Dia do pai, um poema
O poema é composto por três tercetos. O primeiro e segundo versos contam com 6 sílabas, o terceiro com três sílabas. Do segundo para o terceiro, usa um encavalgamento – continuar o sentido do verso anterior no seguinte.
Guia de escrita:
1.      Fazer uma lista de palavras associando sentidos e evocação pessoal do pai;
2.      Produzir uma comparação ligada a um elemento natural;
3.      Escrever cada terceto com respeito da métrica e assegurando encavalgamentos estipulados.


Ritmos e ruídos: techno poema
Em cada verso, cada sílaba par é parecida/idêntica à sílaba ímpar que a precede
Cada data tapa para a razão o dia que começa


Gourmet: 7 dias, 7 fitas
Na profusão do real, muitos signos e situações que, no momento, nos parecem singulares, e que não sabemos reter. O Diário de kafka dá-nos pistas para as localizar. Cada dia, armazenamos em conteúdo o real, uma sequência de vinte e cinco milhões de fotões, 14 por segundo. O cérebro reconstrói a imagem, envia-nos diversos sinais de alerta, ou procedimentos de reconhecimento.
            De dia, não separamos esses sinais. Cabe essa função à primeira fase do sono. Uma boa parte é esquecida. Mas, alguns persistem tais como fragmentos de conversas (no autocarro, no bar, na rua, etc.), momentos singulares (um reflexo, uma espera, uma situação), acontecimentos (incidente, explicação, brilho do sol) ou uma variante do que se repete no quotidiano (a primeira página de um jornal, as notícias do telejornal, os cumprimentos normais)
            Proponho encontrar nos sete dias anteriores, um desses instantes que escapa à rotina, situações singulares em que a vida nos livra outra face que a habitual. Vamos assim varrer uma relação da memória ao real cada vez diferente. Para os dias há pouco decorridos, é preciso separar o mais singular. Para os dias na outra ponta deste mini diário de uma semana, será necessário repescar coisas do esquecimento. Uma dica que pode ajudar a selecionar o insólito duma situação consiste em focar aquilo que desvia a atenção do resto. Muitas vezes, os breves apontamentos de Kafka são em três frases. Uma frase descreve ou expõe. Uma frase faz um zoom sobre a singularidade da cena, ou transporta uma palavra ouvida, uma pausa sobre imagem, um pormenor aumentado. Uma frase reenvia ou reflete tudo isso no interior de nós próprios. A ordem não é obrigatória, mas construir um parágrafo com três breves frases, uma espécie de música ternária da narração, é muito gerador de movimento para a escrita.
Por vezes, num dos sete parágrafos, uma para cada dia, pode introduzir-se um inteiramente fictício, maneira de conferir à totalidade do real o seu potencial fantástico.



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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Desafio n.º 9


Aquecimento: Escada -  duas palavras com idêntico comprimento (de preferência antonímicas) são reunidas por uma sequência de palavras que só diferem uma das outras por causa de uma única letra. Eis o exemplo de Carrol:
HEAD
HEAL
TEAL
TELL
TALL
TAIL
O interesse da escada pode residir nas possibilidades narrativas se a associarmos a um rali letter (cf. Oficina 8)

Ritmos e ruídos: Caixinha de música
Uma caixinha de música é um poema com forma fixa de seis versos com métrica 778?87. A palavra na caixinha está no verso 4 e a classe de palavras à qual pertence não pode estar representada nos outros versos. Se a palavra for um nome, os versos 1,2,3,5 e 7 não podem conter nenhum. O conjunto é constituído por uma única frase.

Gourmet: No sótão dos meus avós
O quotidiano como território é uma montagem de superfícies que cada um recompõe. A nossa perceção global do espaço é feita de lugares cada um vivido como um totalidade. Contudo, os espaços da nossa vida, quando fazemos a experiência de os olhar no Google earth, ligam-se, no limite, com outros elementos naturais que presidiram à moldagem dos lugares onde vivemos.
Trata-se de atravessar, como na infância subir as escadas até ao sótão dos nossos avós, numa viagem interior com imagens, os limites do nosso dia-a-dia e reconstruir o real vislumbrado do alto da muralha do quotidiano, a que as palavras colem exatamente ao que vemos, fragmento por fragmento. O que há para além dos limites da localidade onde moras, os hábitos que praticas, as rotinas que cumpres? Conta essa viagem com partida na paragem do autocarro, de que os postais seriam as palavras da realidade imaginária, motivo único do caminho. 



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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Desafio n.º 8

Ø  Aquecimento:
1.      Rali letter: o desafio consiste em contar uma história, utilizando obrigatoriamente e numa ordem determinada as diferentes palavras de uma lista pré-estabelecida. Para isso, procede da seguinte maneira:
1.      Escolhe um número de 1 a 20;
2.      Abre o dicionário ao acaso, e retém o nome que corresponde ao teu número, na página de esquerda ou direita;
3.      Repete a operação ao acaso, até obteres os sete nomes;
4.      Depois só tens de imaginar uma curta história suficientemente fluída para que as palavras impostas não pareçam inoportunas.


Ø  Ritmos e ruídos: Sardinossauro – pense-se em dois animais (ou outros campos possíveis – desporto, transportes, etc.) de tal forma que a última sílaba de um seja a primeira da outra, assim gazela e elefante, ou touro e rouxinol. Reúnem-se então as duas palavras, a gazelefante ou touroxinol. Escreve-se então um curto texto descrevendo o animal imaginário, inspirando-te das particularidades dos dois parentes/campos de sentido.


Ø  Gourmet: GPS
A escrita refaz um percurso diário. Seis vistas fixas, com zooms diferentes, retribuem a ilusão de um trajeto contínuo, um que faças/fizeste regularmente. Nos nossos trajectos mais habituais, reconhecemos o que está no seu lugar, temos as nossas referências. Mas, precisamente, por se tratar de um trajeto habitual, esse fragmento arbitrário permite-nos fazer transpor uma barreira à escrita: vai poder dizer o estado normal das coisas, a sua magia, a sua presença, seus perigos, mas sobretudo o seu rosto, dia a dia, longe dos acontecimentos excepcionais. E é aí talvez o desafio maior da escrita.
Cada um escolhe um trajeto feito 100, 1000 vezes. Pode ser um trajeto muito curto, de casa, depois de fechar a porta (nunca começar o texto dentro de casa), até à paragem, ou de casa até ao colégio/trabalho. Cabe-te também escolher outro trajeto no teu passado – o caminho para o infantário, familiares, etc.
A técnica consiste em decompor. Tomar seis diapositivos, só vais escrever planos fixos. Não há depois,  a seguir, nem provavelmente à esquerda, à direita. Só imagens paradas. Duplo compromisso: quando lermos o texto, a impressão de movimento será tanto maior quanto se passa de um plano para outro; e como não há transição, é o próprio diapositivo que organiza o fragmento em consideração.
Para recapitular em fases:
1.       Escolher o trajeto que serve de motivo
2.       Decompô-lo em seis planos precisos, separados, ao longo do percurso
3.       E, por termos suficientemente decomposto em elementos simples, deixar as palavras passar rente no que se visualiza, sem preocupação com antes e depois.
É um trabalho fantástico, além do efeito de presença que dará ao quotidiano, faz surgir no texto um conjunto de sinais invisíveis, porque o facto de o ter percorrido tantas vezes vai apagar os acontecimentos que se produziram uma única vez, e passar para a frente as variações mais lentas, como as estações.


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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desafio n.º 7

1.      Aquecimento:

Pervérbio: Obtém-se com a associação de duas (ou mais) partes de um provérbio ou locução, ditado, etc. Assim, cada cabeça é boa conselheira é o resultado do cruzamento de A noite é boa conselheira com cada cabeça sua sentença.
Pode-se organizar pervérbios em poemas:
Cada cabeça é boa conselheira
A noite
Sua sentença

2.      Ritmos e ruídos:

Transdução: A partir de um determinado texto (não tem de ser necessariamente literário), substitui os nomes desse texto por outros nomes de outro campo de sentido. Assim, Queneau tratou um artigo de matemática, substituindo as palavras pontos, linha, plano do texto-fonte por palavras, frases, parágrafo.

3.      Gourmet:  Um dia em palco

Apreender as personagens que povoam o nosso quotidiano, sem cair forçosamente na caricatura, começando cada retrato com a identificação anónima alguém… O nosso quotidiano é antes de mais toda uma comunidade de personagens. Uma sequência de esboços rápidos, silhuetas desenhadas com uma linha, e captar o máximo de personagens diferentes, numa frase (verso) breve e precisa. Ao repetir a expressão Alguém, induz-se o processo criativo para continuar a frase, como se fosse a caneta que traça o retrato e não a mente. Frases mais sérias devem dar lugar a frases mais leves. Podes aceitar analogias, associações de pensamentos, deixar-te à deriva, até que surja outra personagem. Deves, no entanto, gerir a tua red line, de forma a não saíres do sulco inicial. Não deixa de ser uma escrita contínua, sem triagem e é assim que se gerará o imprevisto, marca mágica. Podemos, na apresentação, alternar a leitura dos textos para proporcionar um momento musical a várias vozes, concerto polifónico.
Ex: Alguém na rua, que espera, quem? O quê? Olha ao longe.
Alguém murmura um tema encantador
Alguém com um chapéu que não faz nada
Alguém com um grande guarda-chuva debaixo do braço
Michaux


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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Desafio n.º 6

Oficina 6
1.      Aquecimento:
Ø  A dieta para poema: Para proceder ao emagrecimento de um poema, deve tirar, de um dado poema, outro poema mais curto, por exemplo de um soneto, um haiku (cf. Oficina 5), e, para isso, não se devem utilizar no haiku outras palavras que não sejam as do poema-fonte, só que com alteração da ordem e pontuação. Para ser rigoroso, não se devia poder modificar a forma das palavras. Mas pode haver tolerância nesse parâmetro.


2.      Ritmos e ruídos:
Ø  Bacibaba palavra bacibab confere ao desafio o seu nome: ba-ci-ba-b
Os primeiros e terceiros pedaços desta decomposição relembram a palavra baixo; o segundo cima e o último nada.
Um bacibab com a palavra bacibab será um texto recheado de palavras com as sílabas cima e baixo. É destinado a ser lido a duas vozes, ou mais, que se repartem as sílabas.
Ex.: Um sinal ambíguo bafejou a sina do batel


3.      Gourmet:
Rodízio à rotina
Ø  Sobre uma faceta da tua rotina, procura fazer uma lista exaustiva de palavras e sentidos associados. Trata-se de desvendar o real, de o decompor e fazer linguagem do que nós reconhecemos como próprio da sua profusão. A surpresa é que, ao abrir esse alçapão de nomes, por um lado, demarcamos o nosso território pessoal, e, por outro, as palavras reunidas refazem uma história nova, e para além da acumulação, motivam a gestação de um sentido oculto. Tem um efeito desestabilizador e milagroso.
Assim, a simples lista dos ruídos do quotidiano à nossa volta vai multiplica-los até ao mais ínfimo. Os temas mais simples como a meteorologia, as luzes, a música em diferentes espaços, os objetos da minha secretária, etc., podem proporcionar resultados surpreendentes pela acumulação. Podem gerar então rodízios diferentes consoante os temas escolhidos
Ex.: Inspiração de G. Perec

Notas breves sobre os objetos que estão em cima da minha mesa de trabalho
Há muitos objetos em cima da minha mesa de trabalho. O Mais antigo é sem dúvida a minha caneta; o mais recente é um pequeno cinzeiro redondo que comprei na semana passada; é em cerâmica branca e a sua decoração representa o monumento aos mártires de Beirute…  



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Desafio n.º 5


1.      Aquecimento:
Ø  Lipoaspiração: escrever um texto com proibição de usar uma letra à escolha. Com o mesmo fim, podem proibir-se uma palavra com uso mais frequente, como ser, estar, etc.

2.      Ritmos e ruídos:
Ø  Sushi: A literatura japonesa desenvolveu uma forma poética reconhecida internacionalmente – o Haiku. Com três versos, o primeiro e terceiro heptassílabos (7) e o segundo pentassílabo (5), procura apreender a ligeireza e simplicidade de um momento puro de comunhão com a natureza.

Na casinha adormecida,
Escuto a chuva
Com o gato no meu colo.

3.      Gourmet:
Ø  Metro: No espaço da página branca, no espaço do vazio espacial, passando pelos espaços revisitados por ti todos os dias a determinadas horas, examina a tua relação ao espaço em todas as dimensões e como essa comunicação pode variar consoante a hora do dia ou noite. Num espaço, apontar o que se vê, o que se passa. Sabemos ver o que se passa? Alguma coisa é surpreendente? Nada nos surpreende. Não sabemos ver… Aplicar-se. Tomar o tempo.
A dimensão espacial da nossa existência, e para auxiliar com a escrita, proponho que inicies todas as frases/versos com a expressão A hora de… ou A hora em que… Não precisas de pensar antecipadamente, é com a dinâmica da escrita que vai nascer a imagem. O fio da meada é conferido pela passagem cronológica do dia. Podes também optar por evocar outros espaços como unidade, por exemplo, espaços exteriores, espaços públicos, espaços privados, virtuais, etc.
Não precisas de estar com grandes descrições, é só o que a frase/verso consegue agarrar e o andamento global decorre da mudança de verso.

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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Desafio n.º 4

1.      Aquecimento:
Ø  O Código de estrada: A poesia permite-nos (re) visualizar a sociedade de sinais em que vivemos, basta para isso agarrar um desses sinais e legendá-la de forma criativa. Lembrei-me que os que têm mais visibilidade são os de trânsito mas podes recorrer a outros.


Caminhar dispõe bem e faz crescer

2.      Ritmos e ruídos:
Ø  Boneco de neve: o poema Boneco de neve tem uma extensão n, ficando a teu critério, com o primeiro verso constituído por um número mínimo de letras, o segundo com mais uma, o terceiro com outra, etc. Até ao enésimo verso com n letras. Podes deixar derreter o boneco ao sol… com o procedimento inverso.

3.      Gourmet:
Ø  A face escondida da lua: descobre a poesia de um corredor, um pormenor de edifício, a graça de uma planta… Fotografa espaços e legenda-os com uma sentença poética/ por relevar uma face escondida; um pormenor desapercebido; um ângulo inovador; etc. Se incidir sobre espaços do Colégio, poderá ser reaproveitado para A Festa da Poesia em Março.
Ø  Master Chief: Pequenas receitas de utilização da vida corrente: sequências banais da vida corrente, descritas com a precisão de um modo de utilização, vão transformar esses gestos de todos os dias num conto fantástico.
o   Focagem: antes de desenvolver um ou dois desses modos de utilização, faz-se um inventário daquilo que poderá prestar-se a tal:
Modo de utilização do autocarro;
Modo de utilização do refeitório;
Modo de utilização para a festa em casa;
Modo de utilização de uma paragem;
Etc.
o   Efeito-Surpresa: é importante que surja algo inesperado:
Modo de utilização do sorriso;
Modo de utilização da simpatia;
Etc.
o   Compor texto colando rubrica A poesia dos espaços com Pequenas receitas de utilização da vida corrente.
Ex. Instruções para subir escadas – J- Cortazar
o   As escadas sobem-se de frente pois para trás ou de lado não é propriamente cómodo. A atitude mais natural a adotar é de pé, braços caídos, ...



Votos de muita escrita para 2012,
Paulo Pereira.





Nota: Tragam os trabalhos imprimidos.