sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Desafio n.º 9


Aquecimento: Escada -  duas palavras com idêntico comprimento (de preferência antonímicas) são reunidas por uma sequência de palavras que só diferem uma das outras por causa de uma única letra. Eis o exemplo de Carrol:
HEAD
HEAL
TEAL
TELL
TALL
TAIL
O interesse da escada pode residir nas possibilidades narrativas se a associarmos a um rali letter (cf. Oficina 8)

Ritmos e ruídos: Caixinha de música
Uma caixinha de música é um poema com forma fixa de seis versos com métrica 778?87. A palavra na caixinha está no verso 4 e a classe de palavras à qual pertence não pode estar representada nos outros versos. Se a palavra for um nome, os versos 1,2,3,5 e 7 não podem conter nenhum. O conjunto é constituído por uma única frase.

Gourmet: No sótão dos meus avós
O quotidiano como território é uma montagem de superfícies que cada um recompõe. A nossa perceção global do espaço é feita de lugares cada um vivido como um totalidade. Contudo, os espaços da nossa vida, quando fazemos a experiência de os olhar no Google earth, ligam-se, no limite, com outros elementos naturais que presidiram à moldagem dos lugares onde vivemos.
Trata-se de atravessar, como na infância subir as escadas até ao sótão dos nossos avós, numa viagem interior com imagens, os limites do nosso dia-a-dia e reconstruir o real vislumbrado do alto da muralha do quotidiano, a que as palavras colem exatamente ao que vemos, fragmento por fragmento. O que há para além dos limites da localidade onde moras, os hábitos que praticas, as rotinas que cumpres? Conta essa viagem com partida na paragem do autocarro, de que os postais seriam as palavras da realidade imaginária, motivo único do caminho. 



http://meninanosotao.files.wordpress.com/2010/10/image3.png


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Desafio n.º 8

Ø  Aquecimento:
1.      Rali letter: o desafio consiste em contar uma história, utilizando obrigatoriamente e numa ordem determinada as diferentes palavras de uma lista pré-estabelecida. Para isso, procede da seguinte maneira:
1.      Escolhe um número de 1 a 20;
2.      Abre o dicionário ao acaso, e retém o nome que corresponde ao teu número, na página de esquerda ou direita;
3.      Repete a operação ao acaso, até obteres os sete nomes;
4.      Depois só tens de imaginar uma curta história suficientemente fluída para que as palavras impostas não pareçam inoportunas.


Ø  Ritmos e ruídos: Sardinossauro – pense-se em dois animais (ou outros campos possíveis – desporto, transportes, etc.) de tal forma que a última sílaba de um seja a primeira da outra, assim gazela e elefante, ou touro e rouxinol. Reúnem-se então as duas palavras, a gazelefante ou touroxinol. Escreve-se então um curto texto descrevendo o animal imaginário, inspirando-te das particularidades dos dois parentes/campos de sentido.


Ø  Gourmet: GPS
A escrita refaz um percurso diário. Seis vistas fixas, com zooms diferentes, retribuem a ilusão de um trajeto contínuo, um que faças/fizeste regularmente. Nos nossos trajectos mais habituais, reconhecemos o que está no seu lugar, temos as nossas referências. Mas, precisamente, por se tratar de um trajeto habitual, esse fragmento arbitrário permite-nos fazer transpor uma barreira à escrita: vai poder dizer o estado normal das coisas, a sua magia, a sua presença, seus perigos, mas sobretudo o seu rosto, dia a dia, longe dos acontecimentos excepcionais. E é aí talvez o desafio maior da escrita.
Cada um escolhe um trajeto feito 100, 1000 vezes. Pode ser um trajeto muito curto, de casa, depois de fechar a porta (nunca começar o texto dentro de casa), até à paragem, ou de casa até ao colégio/trabalho. Cabe-te também escolher outro trajeto no teu passado – o caminho para o infantário, familiares, etc.
A técnica consiste em decompor. Tomar seis diapositivos, só vais escrever planos fixos. Não há depois,  a seguir, nem provavelmente à esquerda, à direita. Só imagens paradas. Duplo compromisso: quando lermos o texto, a impressão de movimento será tanto maior quanto se passa de um plano para outro; e como não há transição, é o próprio diapositivo que organiza o fragmento em consideração.
Para recapitular em fases:
1.       Escolher o trajeto que serve de motivo
2.       Decompô-lo em seis planos precisos, separados, ao longo do percurso
3.       E, por termos suficientemente decomposto em elementos simples, deixar as palavras passar rente no que se visualiza, sem preocupação com antes e depois.
É um trabalho fantástico, além do efeito de presença que dará ao quotidiano, faz surgir no texto um conjunto de sinais invisíveis, porque o facto de o ter percorrido tantas vezes vai apagar os acontecimentos que se produziram uma única vez, e passar para a frente as variações mais lentas, como as estações.


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdwzEX-u-Rw_uR9J5rSIAZrDb60jyldoDkB-M7CMnS5HW_wCUn6ptKQDrX2OHNNWMtQYPLt4EbW_SoEnDBF-8TYtuyJSbhvG5Ye55T0RG54HdCqrKnZK1SdeihWtNwbCHIYg8NqUzpzX6a/s1600/P1220009.JPG

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desafio n.º 7

1.      Aquecimento:

Pervérbio: Obtém-se com a associação de duas (ou mais) partes de um provérbio ou locução, ditado, etc. Assim, cada cabeça é boa conselheira é o resultado do cruzamento de A noite é boa conselheira com cada cabeça sua sentença.
Pode-se organizar pervérbios em poemas:
Cada cabeça é boa conselheira
A noite
Sua sentença

2.      Ritmos e ruídos:

Transdução: A partir de um determinado texto (não tem de ser necessariamente literário), substitui os nomes desse texto por outros nomes de outro campo de sentido. Assim, Queneau tratou um artigo de matemática, substituindo as palavras pontos, linha, plano do texto-fonte por palavras, frases, parágrafo.

3.      Gourmet:  Um dia em palco

Apreender as personagens que povoam o nosso quotidiano, sem cair forçosamente na caricatura, começando cada retrato com a identificação anónima alguém… O nosso quotidiano é antes de mais toda uma comunidade de personagens. Uma sequência de esboços rápidos, silhuetas desenhadas com uma linha, e captar o máximo de personagens diferentes, numa frase (verso) breve e precisa. Ao repetir a expressão Alguém, induz-se o processo criativo para continuar a frase, como se fosse a caneta que traça o retrato e não a mente. Frases mais sérias devem dar lugar a frases mais leves. Podes aceitar analogias, associações de pensamentos, deixar-te à deriva, até que surja outra personagem. Deves, no entanto, gerir a tua red line, de forma a não saíres do sulco inicial. Não deixa de ser uma escrita contínua, sem triagem e é assim que se gerará o imprevisto, marca mágica. Podemos, na apresentação, alternar a leitura dos textos para proporcionar um momento musical a várias vozes, concerto polifónico.
Ex: Alguém na rua, que espera, quem? O quê? Olha ao longe.
Alguém murmura um tema encantador
Alguém com um chapéu que não faz nada
Alguém com um grande guarda-chuva debaixo do braço
Michaux


http://3.bp.blogspot.com/-VZ5KPN5jskE/Tx7kUGYc1SI/AAAAAAAAG4o/gnIHWmt2Vy4/s1600/SE+UM+DIA.jpg